
O Rio Grande do Sul é o estado brasileiro com a maior proporção de praticantes de religiões de matriz africana, segundo dados preliminares do Censo Demográfico de 2022, divulgados nesta sexta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o levantamento, 3,2% da população gaúcha segue alguma religião de origem africana — percentual três vezes superior à média nacional, que é de 1%. Em 2010, última vez em que o IBGE divulgou dados semelhantes, o Brasil tinha 0,3% da população ligada a essas religiões. Na época, o RS já liderava o ranking.
Mesmo com o destaque das religiões afro-brasileiras, o catolicismo ainda é a fé com maior número de adeptos no estado, com 62,4% dos habitantes. Em seguida aparecem os evangélicos, que representam 23,7% da população gaúcha.
Tradição e enraizamento
Segundo Everton Alfonsin, presidente da Federação Afro-Umbandista Espiritualista do RS (FAUERS), a presença marcante das religiões de matriz africana no estado está ligada ao intenso tráfico de pessoas escravizadas durante o período colonial. Em 1814, por exemplo, entre os 70 mil habitantes da então província, 20 mil eram escravizados e 5 mil, negros livres.
“Os escravizados chegavam pelos portos de Rio Grande e Pelotas. Foi ali que se formaram as primeiras comunidades religiosas”, explica Alfonsin. Um levantamento feito em 2010 identificou mais de 71 mil terreiros espalhados pelo estado.
As religiões mais praticadas atualmente no RS, segundo os dados mais recentes, são umbanda, candomblé, batuque e quimbanda.
Patrimônio e intolerância
Um dos marcos mais conhecidos da presença afro-religiosa em Porto Alegre é o Bará do Mercado Público. O local, considerado espaço sagrado pelas religiões de batuque, foi tombado em 2020 como patrimônio histórico-cultural da capital. No batuque, o orixá Bará representa a abertura de caminhos e a fartura.
A divindade mais popular, no entanto, é Iemanjá. Em 2 de fevereiro, a orixá conhecida como “mãe de todos” é homenageada por milhares de fiéis nas praias do estado, em celebrações que reúnem mais de 100 mil pessoas.
Apesar do reconhecimento cultural, o número de casos de intolerância religiosa preocupa. Entre 2022 e 2024, o Rio Grande do Sul registrou um aumento de 250% nas ocorrências. Somente em 2023, foram 70 registros feitos pela Polícia Civil, a maioria contra religiões de matriz africana.
Religiões mais praticadas no RS
(em porcentagem)
• Católicos: 62,4%
• Evangélicos: 23,7%
• Umbanda e candomblé: 3,2%
• Espíritas: 1,9%
• Outras religiosidades: 3,2%
• Sem religião: 7,1%
• Não sabem/não declararam: 0,2%
Cidade com maior proporção de pessoas sem religião
O Censo também apontou que um município com cerca de 6 mil habitantes, localizado no extremo sul do Brasil, é o que tem a maior proporção de moradores sem religião no país. O nome da cidade, no entanto, ainda não foi divulgado oficialmente pelo IBGE.
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